Que
os tempos são difíceis e que se adivinham tempos piores, julgo que ninguém põe
em causa. De um modo geral, em todas as famílias, incluindo a minha, há uma
contenção nas despesas e inventam-se novas formas de poupar e algumas delas
muito criativas, fazem-se novas escolhas à luz do orçamento de cada um.
É
também verdade, que os nossos filhos não estão preparados para o que aí vem (e
alguns de nós também não) mas também é verdade que os nossos filhos têm mais do
que aquilo que realmente precisam, ainda que eles achem que não.
A
verdade é que os nossos filhos dão muita importância ao “ter”, valorizam-se
muito as coisas que o poder económico pode dar. É o PC XPTO, o último jogo que
saiu, a sapatilha de marca…
O
meu filho acaba-me de pedir uma PSP Vita como prenda de natal, o preço não é
mais nem menos que um valor superior à metade do salário mensal que usufruo.
É
certo que se a ele cabe o papel de pedir, a mim cabe o papel de dizer não! É certo
que nem sempre é fácil ouvir um não, mas dize-lo também não é uma tarefa
melhor.
Ficou
frustrado, chorou, fez queixumes, senti até uma certa revolta. Afinal de contas
é um bom aluno, educado, bem comportado, miúdo que não trás qualquer chatice
para casa, colabora nas tarefas domésticas, diria mesmo que é um filho
perfeito. Mas é isso motivo suficiente para ousar pedir uma prenda de valor
económico tão elevado?
É
aqui que por vezes a nós pais nos ocorre dizer “há meninos que passam fome e tu
queres o quê mesmo?”.
Acredito
que depois da revolta o tempo trará a aceitação, facto é que conversamos e
houve da minha parte uma explicação, fiz-lhe ver com o que conta da parte dos
pais e até onde podemos e devemos ir.
Não
me preocupa o facto de não ter poder de comprar para lhe oferecer a tão
desejada PSP Vita, mas preocupa-me o facto de poder lhe estar a limitar o
futuro e limitar as expectativas.
O
meu filho é bom aluno, mas não é excelente. Está naquele patamar entre o bom e
o excelente em algumas das unidades curriculares. Está naquele estado em que
uma aula particular ou duas poderiam ajudar o filhote a ultrapassar essa
barreira que ele sozinho não está a conseguir ultrapassar. E isso sim, eu
lamento muito não ter o poder financeiro para lhe oferecer, porque sinto que
lhe estou a afunilar o caminho do seu futuro, estou a roubar-lhe caminhos e a
reduzir expectativas futuras.
O
André (meu filho), não tem tudo, mas tem o importante (minha opinião) o
supérfluo terá ele que o conquistar.
E
nesta forma que eu tenho de estar na vida, a PSP Vita é sem qualquer sombra de dúvida
um supérfluo e por isso a alternativa e contraposta minha e do pai foi (e nunca
poderia ser outra), que ele próprio juntasse o dinheiro para ela. A nossa
contribuição passaria por no próximo aniversário (final de Novembro) e no Natal
a prenda que receberia seria dinheiro no lugar de outra lembrança qualquer. Há
sempre um familiar ou outro que dá dinheiro, de grão a grão …
Espero
que ele reconheça os sacrifícios que eu e o pai fazemos por ele, e que aprenda
a lidar com a insatisfação, é certo que quero proteger o meu filho do “mundo”,
mas não posso alheá-lo da realidade económica familiar, nem da noção do que é
realmente essencial.
1 comentário:
Olá :)
Gostei muito deste texto (como, na verdade, de tantos outros) e aproveito para comentar a primeira vez.
Entenderá sim, talvez não agora, talvez não no Natal ou a seguir, enquanto pensar "eu quero ter", "aquele amigo tem/teve"... Mas entenderá quando crescer mais um pouco e sobretudo quando for adulto. Entenderá e agradecerá a educação que teve.
Como eu agradeço também agora (e já desde alguns anos atrás)... mas quando era pequena (há uns 15-10 anos atrás) também não tinha nada do que as amigas tinham: calças Levis, sapatilhas Nike, telemóvel Nokia, walkman...) e não entendia apesar de me explicarem que não podia ter essas coisas. Apesar de ser a melhor aluna da turma, de arrumar o quarto, fazer o almoço ou ajudar no campo.
Hoje entendo, tudo isso e muito mais. E agradeço :)
E substituir as prendas por dinheiro será uma boa forma de o "ajudar" a ter o que tanto quer :)
Beijinho
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